Escritora e artista plástica Eva Leite aborda acessibilidade sexual das PcD

O amor transcende barreiras. O desejo ignora limites físicos. Mas, enquanto sociedade, ainda erguemos muros invisíveis que negam a milhões de pessoas o direito básico de viver sua sexualidade com liberdade e autonomia. Neste cenário de exclusão, vozes emergem para transformar paradigmas. Em 22 de maio, a escritora e artista plástica Eva Leite lança a terceira edição de “Minha Vida Tem Rodas, Meus Sonhos Têm Asas” – obra revisada e ampliada, que desafia tabus para promover a visibilidade, o protagonismo e a inclusão plena de pessoas com deficiência. O lançamento será realizado na Casa de Cultura do Varjão.
Tetraplégica desde os 20 anos, Eva encontrou na arte uma maneira de transpor os limites físicos impostos pelo acidente. Sua jornada literária começou ainda durante o tratamento na Rede Sarah, quando, com determinação e criatividade, iniciou o aprendizado das técnicas de digitação com a boca. A edição revisada e ampliada de “Minha Vida Tem Rodas, Meus Sonhos Têm Asas” traz para o debate a acessibilidade sexual de cerca de 18,6 milhões de brasileiros e brasileiras, que ainda enfrentam barreiras – não apenas físicas, mas também sociais e emocionais.
A publicação conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF e da Agenda Cultural Brasília.
TRÊS PERGUNTAS PARA EVA LEITE:
Minha Vida tem Rodas, Meus Sonhos têm Asas foi seu primeiro livro publicado, em 2004. Como sua trajetória pessoal influenciou a escolha do tema acessibilidade sexual da pessoa com deficiência?
EVA LEITE: Quando pensei em escrever o livro, imaginava que contaria minha história de superação. Eu queria relatar como foi o processo de adaptação à nova realidade de ser uma mulher cadeirante, sem poder mover as pernas ou as mãos, sem conseguir fazer nada da maneira convencional, como eu fazia antes, andando e cuidando de mim e de outras pessoas, realizando tudo o que precisava e desejava. Eu queria que as pessoas conhecessem toda a minha trajetória desde o meu nascimento, passando pelo acidente, o preconceito e tudo o que estava vivendo.
Consegui meu primeiro computador com internet em 1998 e comecei a fazer pesquisas, inclusive sobre a sexualidade de pessoas com deficiência. A maioria das pessoas, que não têm contato próximo com pessoas com lesão medular, acredita que elas não têm desejos ou afetividade, que não podem namorar, beijar, casar ou até mesmo ir a um motel. Isso não é verdade. Meu livro aborda como eu vivia tudo isso.
Após meu acidente, tive uma gravidez e uma filha, Isabel, além de ter tido vários relacionamentos e morado com diversas pessoas. É necessário ter ousadia e se sentir seguro em relação à saúde e aos cuidados do corpo para encarar a realidade do namoro e da sexualidade como alguém que já andou. Não foi fácil, mas tive a maior satisfação e alegria de escrever e publicar esse livro, que vendeu rapidamente na primeira edição. Depois, consegui uma oportunidade de publicação com patrocínio da Secretaria de Cultura do DF, através do edital do FAC, e agora estou relançando.
Quais são os principais tabus que você acredita que o livro pode ajudar a desconstruir em relação à sexualidade de pessoas com deficiência?
EVA LEITE: Durante minha pesquisa sobre acessibilidade sexual das PcD, também fui ao Hospital SARAH para conversar com as pessoas, levando um gravador antigo para registrar alguns pacientes contando suas histórias. A maioria estava desanimada e sem coragem para enfrentar essa batalha, que não é fácil. Muitos são os tabus e preconceitos que envolvem as pessoas com deficiência. Existem muitos rótulos.
Ao contar minha história, acredito que tocará alguém que também passou por experiências semelhantes, que enfrentou dificuldades, ou até mesmo alguém que esteja passando por isso agora, por essa mudança tão drástica que é a lesão medular. A pessoa pode ficar bastante desanimada em relação à afetividade, achando que a vida acabou. Até que surge alguém corajoso que demonstra interesse, e mostra que ela pode ser tão desejada, ou a PcD é alguém ousada.
Espero que meu livro seja lido e debatido, especialmente, sobre essa situação – os abusos, os preconceitos. Hoje, temos muitos títulos que abordam as questões das PcD; na minha época, eu só conhecia um livro, “O Feliz Ano Velho”, do Marcelo Rubens Paiva. Hoje, existem muitos sites, blogs. Há muitos canais de informação disponíveis, onde as pessoas podem trocar informações e debater. Espero que essa terceira edição, que foi revisada e ampliada, possa somar nessa luta para quebrar tabus e preconceitos.
De que forma você espera que o livro inspire leitores a repensar a inclusão e o respeito à diversidade de corpos e desejos?
EVA LEITE: Ver alguém na cadeira de rodas, sem movimentar os braços ou as pernas, é comum hoje em dia. Cada vez mais, surgem novas pessoas com lesão medular, e as causas são diversas. Pode ser um acidente de carro, como no meu caso, um acidente de moto, um tiro, um mergulho mal feito, uma queda, entre muitas outras causas.
Em meu livro, falo sobre a questão da superação, para que a pessoa continue estudando, trabalhando e fazendo tudo o que sempre fez, e cada um vai descobrindo seus próprios meios e caminhos.
Eu espero que o livro faça as pessoas refletirem sobre a inclusão e o respeito. Tudo isso está ligado ao respeito, à educação, à informação, e a falta dela causa muitos danos para as pessoas com deficiência e para aqueles que desejam se envolver. Essa é a minha intenção: inspirar as pessoas a olharem com mais atenção, a perceberem a pessoa com deficiência e não apenas focar na deficiência, mas, sim, no que a pessoa é e no que ela faz na vida dela.
SERVIÇO:
Lançamento do livro “Minha Vida Tem Rodas, Meus Sonhos Têm Asas” – 3ª edição
Quando: 22/05. Quinta-feira
Onde: Casa de Cultura do Varjão – Quadra 2, Conjunto B, Lotes 1 e 2
Quanto: entrada franca
Mais informações: www.agendaculturalbrasilia.art.br/minhavidatemrodas
Redes sociais: @minhavidatemrodas