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Numa ação inédita na capital, o acervo cultural de um teatro é incorporado ao Arquivo Público do Distrito Federal

Numa ação inédita na capital, o acervo cultural de um teatro é incorporado ao Arquivo Público do Distrito Federal por meio de ações de recuperação, inventário, digitalização e disponibilização do material original para futuras pesquisas de museólogos, historiadores e teatrólogos.

Entre os anos 1990, 2000 e 2010, o NAC foi responsável por promover festivais, mostras, oficinas e centenas de temporadas teatrais com os mais diversos artistas do DF e do Brasil. Pelos palcos do Espaço G51 e do Teatro Goldoni passaram grandes artistas como Hugo Rodas, Dimer Monteiro, Alexandre Ribondi, Ary Para-raios, entre outros. Os dois espaços também abriram oportunidades para jovens talentos oriundos dos cursos de Artes Cênicas da UnB e da Faculdade Dulcina de Moraes, sendo pontos de encontro da juventude criativa e do público, que, por anos, acompanhou obras de diferentes linguagens e estéticas.

O Teatro Goldoni fechou as portas em 2021. O prédio em que estava situado foi vendido e, com isso, parte de um rico acervo das artes cênicas esteve guardado, sendo revelado ao público agora por meio do projeto MEMÓRIA COMPARTILHADA, patrocinado pela Lei Paulo Gustavo.

O MEMÓRIA COMPARTILHADA revisita parte dessa história teatral do NAC por meio de triagem do material guardado. Fazem parte da recuperação jornais com notícias que recontam parte das artes cênicas do DF, bem como filipetas, cartazes, documentos, registros fotográficos e em vídeos. O desafio inicial do trabalho realizado pela equipe esteve voltado na organização desse acervo de forma cronológica ou tipológica. Ao longo das semanas, fotos raras foram digitalizadas e estão em processo difusão ao público, para que a trajetória teatral seja perpetuada. Há artigos raros, como vídeos de estreias de espetáculos, visita de Yoko Ono a Brasília em 1998, bastidores de temporadas e fotogramas e negativos preservados.

O acervo abordado representa os esforços de 30 anos de um coletivo de produtores e artistas que dedicaram suas vidas ao Teatro de Brasília, o NAC – Núcleo de Arte e Cultura. Além de passar pelo teatro, o acervo conta com preciosidades do jornalismo local, reportagens antigas de televisão e mídia impressa, mostrando a evolução de disparo de releases que iam do FAX e da fita BETACAM ao e-mail e o DVD de dados.

O Teatro de Brasília já possui uma memória, que deve ser preservada e difundida para que novas gerações conheçam a sua evolução e tenham referências da nossa trajetória. Nesse contexto, esse importante acervo merece ser devidamente tratado e disponibilizado em plataforma aberta para o público. Parte do acervo será disponibilizada para consulta e apreciação via Tainacan – um software livre desenvolvido no Brasil por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás e da Universidade de Brasília. A sua escolha para difundir esse tipo de acervo se deve pela facilidade de configuração e uso e pelo suporte que a comunidade de desenvolvedores presta para seu uso. Sem considerar sua crescente evolução, dando sinais de ser uma plataforma que tem compromisso a longo prazo com o armazenamento de dados culturais. A tarefa de dar o correto tratamento arquivístico para esse material e cuidar da sua difusão proporcionará uma base para a realização de novas pesquisas sobre as Artes Cênicas do DF, além de servir de subsídio para a realização de novos projetos de preservação da nossa memória cultural.

Realizar o inventário, triagem, higienização do acervo dos teatros G51 e Goldoni e integrá-lo a uma base de dados é uma tarefa louvável, mas lenta. Digitalizar os documentos, cartazes e folhetos para inserir no site do projeto e disponibilizá-los de forma gratuita e organizada servirá como referência para pesquisas de interessados no estudo da história do Teatro e da Cultura no DF, alcançando professores, estudantes e pesquisadores de Artes Cênicas, Cultura e Economia Criativa de todo o Brasil. 

Com a doação para o Arquivo Público, essa história deixa de pertencer a um setor específico ou instituição privada e passa a fazer parte de uma robusta documentação histórica do Distrito Federal.

“Essas ações do Arquivo Público são admiráveis. Uma cidade nova, que não tem memória artística, vai começar a ter. Depois que o Teatro Goldoni foi abaixo, era uma preocupação minha pensar que daqui a 10 anos ninguém iria saber o que foi o Teatro Goldoni, que foi feito para formação de alunos que saiam das escolas de teatro do DF. Um teatro que teve uma trajetória bastante importante em Brasília. Quando começou o processo de mobilização com o Arquivo Público, vi que havia uma equipe maravilhosa auxiliando. Agradeço à equipe que trabalhou no acervo e isso só foi possível porque houve uma informalidade no processo. Uma informalidade séria que só os artistas podem ter. Agradeço também aos artistas que fizeram o Goldoni ser o que foi… Foram muitos espetáculos e oficinas desde a fundação do NAC, junto de Guilherme Reis e Iara Pietricovsky. O caminho foi longo e tenho muito orgulho de ter participado de tudo isso.” – comenta a cenógrafa, figurinista e produtora Maria Carmen de Souza, que assinou na sede do Arquivo Público o termo de doação do material do Teatro Goldoni no dia 17 de janeiro, em Brasília.

Maria Carmen de Souza é premiada cenógrafa, figurinista e artista gráfica. Formada pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, coordenou, ao lado de Marbo Gianecchini, uma das casas teatrais de referência na nossa capital, o Teatro Goldoni, que funcionou durante muito tempo com uma programação de alto nível de espetáculos. Criou mais de 100 cenários e figurinos para teatro e mega-espetáculos de rua. Organizou o Departamento de Figurino da TVE, criando durante 20 anos figurinos para a mesma. Na Itália se especializou em arquitetura cênica, participando da revitalização de 33 teatros históricos da região da Úmbria. Foi Coordenadora de Difusão Cultural da FUNARTE em Brasília no período de outubro de 2007 a janeiro de 2009.

Toda a ação contribuirá para a preservação da memória do Teatro do Distrito Federal, preservando o legado de um importante espaço onde diferentes lembranças se cruzam: as dos artistas, as dos produtores e as do público.

Confira o vídeo da doação: https://www.instagram.com/p/DE-IVq8O3FX/ 

Siga o Instagram do projeto: https://www.instagram.com/memoriacompartilhadadf/